quarta-feira, 23 de novembro de 2022

VÍDEO FAST FOOD AND CHILDREN [POWERFUL] ADVERTISEMENT : OS ATOS RETÓRICOS SEGUNDO TELLIS (2004)

 

         Em sua obra Effective advertising: understanding when, how and why advertising works, Gerard J. Tellis aborda os elementos persuasivos que   compõem a publicidade. Para tanto, parte de um modelo desenvolvido por Cacioppo e Petty, em 1985, para resumir os diferentes meios de persuasão presentes na publicidade. Esse modelo, intitulado Modelo de Probabilidade de Elaboração, emprega abordagens da antiga retórica, ou seja, os três meios de persuasão segundo Aristóteles: logos (argumentos), ethos (endossantes) e  phatos (emoção). Conforme o modelo empregado por Tellis (2004), o modo como um anúncio convence depende, necessariamente, de quanta habilidade e motivação os consumidores apresentam para pensar a respeito da mensagem do anúncio (TELLIS, 2004 apud COSTA, 2022). Em relação ao primeiro meio de persuasão, o argumento ( logos), o autor  afirma que esse recurso “convence um espectador de uma mensagem apelando à razão e confiando em evidências “ (TELLIS, 2004, p.151).

      Em relação ao argumento, o autor (2004) propõe cinco estratégias que podem ser empregadas pelos produtores dos anúncios a fim de persuadir o consumidor/público-alvo, de modo que o argumento é classificado em: comparativo, refutacional, inoculativo, suporte e enquadramento. O argumento comparativo é aquele que, como o próprio termo evidencia, “compara a marca alvo a algum padrão competitivo” (TELLIS, 2004,p.152). A respeito dos padrões competitivos, estes podem ser uma marca concorrente nomeada, uma marca concorrente não nomeada ou uma indústria em geral. Quanto ao argumento do tipo refutacional, este apresenta, inicialmente, um contra-argumento contra a marca anunciada, para depois “destruir” esse argumento. Desse maodo, nas palavras do autor, “a refutação é uma forma especial de argumento bilateral (TELLIS, 2004, p.155). Quando se refere ao argumento refutacional destacando seu aspecto bidirecional, o autor argumenta que essa estratégia pode ser emprega com três distintas finalidades, a saber: 1. Refutar ideias negativas que já foram divulgadas; 2. Refutar problemas gerados por publicidades de uma marca que obteve resposta negativa do seu público quando a determinado assunto/tema. 3.Refutar crenças provenientes por mal entendido ou empresas rivais.

          No que concerne ao argumento inoculativo, ocorre quando “ a publicidade  apresenta a posição do rival com formas fracas de argumentos, seguidas de fortes contra-argumentos que refutam a posição” ( TELLIS,2004, p.159). Esse tipo de argumento tem como objetivo persuadir o espectador  por meio de um posicionamento neutro, entretanto favorável ao que foi exposto e empregado para convencer. No caso do argumento de suporte, é apontado pelo autor como a estratégia mais simples e comum e “ envolve uma afirmação dos atributos positivos de uma marca sem qualquer  comparação, refutação, inoculação, enquadramento, pergunta ou afirmação retórica” ( TELLIS,2004, p.159). O argumento de enquadramento, por sua vez, diz respeito à exposição de um concorrente a uma situação na qual ele se torne menos atraente aos olhos do espectador/ consumidor.

          O segundo meio de persuasão, conforme já apontado, é a emoção (logos). Valorizando o papel desse “estado de excitação” (TELLIS, 2004),  o pesquisador (2004) aponta os três modos pelos quais a emoção despertada convence o destinatário à ação, quais sejam: 1. O modo implícito, em que o anunciante desperta emoções ao incorporar uma mensagem nos personagens envolvidos na trama, despertando empatia nos espectadores; 2. O modo explícito, em que o anunciante desperta emoções, explicitamente, usando estímulos para transmitir um ponto de vista, despertando simpatia em vez de empatia, por parte dos espectadores; 3. O modo associativo, no qual  as emoções são despertadas por meio de estímulos que são apenas tangencialmente relacionados ao produto, o que suscita, no espectador, a associação entre determinada sensação/ emoção e o produto anunciado. Além dos três modos descritos anterior, há cinco métodos expostos por Tellis (2004) para despertar emoções que são particularmente relevantes para os anunciantes: drama, história, demonstração, humor e música. 

          Drama envolve uma interação de um ou mais personagens em torno de uma narração, é o mais cativante e se baseia principalmente na emoção, sem necessariamente depender da lógica, atrai o espectador para a ação com os personagens que estão envolvidos em uma trama (TELLIS, 2004). Segundo o autor (2004), história e demonstração estão entre argumentos e drama. Outrossim, é mencionado que entre essas quadro formas de persuasão, há uma troca entre evidência e emoção. À medida que um comunicador passa do argumento para a história, demonstração e drama, ele confia menos na lógica e mais nas emoções. Já o humor é visto como uma entidade indescritível e fácil de detectar e desfrutar risos instantâneos. O riso na publicidade, causa um relaxamento do público que se configura como alvo das campanhas que empregam o humor como estratégias, estabelecendo um vínculo entre o consumidor e o público. O humor pode ser definido como incongruência indolor. Se a incongruência é dolorosa, deixa de ser agradável ou engraçada. O desafio é que o que é agradável para um grupo é muitas vezes doloroso para o outro (TELLIS, 2004).

          O terceiro ato retórico, o endossamento (ethos) diz respeito às pessoas contratadas para atrair e agir na persuasão do público-alvo, por isso, atuam como agentes que reforçam a credibilidade à mensagem transmitida por determinada publicidade. O endossamento pode ser feito por especialistas, celebridades ou leigos (TELLIS, 2004).Agora, analisemos o vídeo Fast food and children [powerful] Advertisement:

                          Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=0K3F_53Sn34>


              Conforme pode ser observado no vídeo, em um ambiente pouco iluminado e soturno, o espectador acompanha os passos de uma mulher, que segura uma embalagem de papel e se dirige a uma mesa, onde está um garotinho a colorir alguns desenhos. Em poucos segundos, o espectador infere que a mulher é mãe da criança. Em seguida, a mulher abre a embalagem e retira alguns objetos, como seringa, colher, isqueiro e um sachê com um produto em pó, e passa a esquentar, na colher, o produto que estava no sachê. Em um momento considerado o clímax do vídeo, as ações da mãe sugerem que ela irá injetar a substância da seringa no braço do filho. Entretanto, há uma quebra de expectativa, pois rapidamente os objetos dão lugar a um hambúrguer industrializado (fast food). Ao final do vídeo, mãe e filho comem o fast food e aparecem, em fundo escuro, as seguintes frases: “You wouldn’t inject your children with junk”  (Você não injetaria lixo nos seus filhos), “Só why are you feeding it to them?” (Então, por que você está alimentando eles com isso?) e  “Childhood obesity - break the habit)” (Obesidade infantil - quebrando o hábito).

         Em relação à primeira estratégia do argumento ( logos) , o argumento comparativo, é possível verificar o seu emprego, uma vez é feita uma comparação entre os ingredientes industrializados (temperos, conservantes, corantes etc) que compõem o fast food  e os componentes químicos de drogas injetáveis, como heroína e cocaína, por exemplo. Essa comparação é percebida tanto no “jogo” de cenas quanto reforçada por meio das frases que são exibidas: You wouldn’t inject your children with junk”  (Você não injetaria lixo nos seus filhos), “Só why are you feeding it to them?” (Então, por que você está alimentando eles com isso?). Quanto ao argumento refutacional, este se apresenta por meio da inserção das imagens em que mãe e filho se alimentam de fast food  e, em seguida, há a exibição da frase: You wouldn’t inject your children with junk”  (Você não injetaria lixo nos seus filhos). Quanto às demais estratégias de argumentação ( inoculativo, suporte e enquadramento), estas não foram encontradas, conforme a análise.

          No que diz respeito à emoção (phatos), percebe-se as ocorrências de dois modos: 1. Drama- a sequência das ações e a música  de suspense ao fundo, além dos recursos de luz, provocam um ar dramático no enredo; 2: História: também  a emoção se manifesta, claramente, por meio de uma história, afinal  há  uma linha cronológica com sucessão de fatos ( situação inicial, conflito, clímax e desfecho) envolvendo os personagens. Quanto aos efeitos provocados no espectador, há a presença de humor satírico, representado pela quebra de expectativa quando o espectador percebe que o jogo de imagens apenas induzem à interpretação de que seriam injetadas drogas na criança. Outro efeito bastante predominante é a irritação, uma vez que a imagem de uma mãe prestes a injetar  drogas no próprio filho (uma criança) suscitam sentimentos de revolta e indignação. Quando o espectador percebe que a criança não corre riscos quanto à injeção de drogas, é despertada cordialidade.

          O terceiro ato retórico, o endossamento (ethos), está presente no vídeo  por meio da participação de peritos/ especialistas e leigos. No caso dos peritos/ especialistas, percebe-se que o vídeo foi produzido como parte de uma campanha de saúde. Sendo assim, infere-se que algum órgão ou entidade  pretende provocar essa reflexão por meio do vídeo impactante. Como não foram empregadas celebridades, constata-se que as pessoas que encenam o vídeo são leigos, possivelmente para melhor atingir o propósito de gerar uma identificação ou aproximação entre os personagens e a vida real dos espectadores. Além disso, a ausência de pessoas famosas evita que a atenção se volte para o endossante, e não para a mensagem. Por fim, no que concerne à receptividade do vídeo, há bastante divergências, pois uma parte  do público aceitou a mensagem, ou seja, agradou-se do conteúdo, enquanto uma parte do público considerou as cenas apelativas  ou exageradas.

          Concluída a análise, fica clara a relevância do trabalho de Tellis (2004) para a compreensão dos diferentes atos retóricos que constituem a publicidade e a propaganda. Assim, de posse do aparato teórico-metodológico proposto pelo autor, o espectador/ consumidor pode ver  muito além do que  os seus olhos captam explicitamente nas propagandas e publicidades.

 

REFERÊNCIAS

 

TELLIS, G.J. Advertising as Persuasion In: ______. (org.). Effective advertising: understanding when, how, and why advertising works. California: Sage publications, 2004, p. 126 – 149.

 


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