Inicialmente
abordado na literatura, o conceito de intertextualidade foi introduzido, na década de 60, pela
crítica literária francesa Julia Kristeva. O termo era empregado nos casos em
que determinada obra literária recuperava elementos de uma outra obra
literária. Apoiando-se no postulado do dialogismo bakhtiniano, a autora defende
que todo texto é o resultado de várias citações, que são absorvidas e
transformadas em um outro texto.
Mesmo não se utilizando do conceito de
intertextualidade, Bakhtin (2004)
argumenta que o texo não pode ser pensado em si mesmo, uma vez que é
definido pelo diálogo estabelecido com outros textos. O dialogismo, para
Bakhtin, é o caráter essencial da
linguagem e princípio que constitui o
discurso. Assim, nenhum enunciado é nosso, pois sempre traz consigo enunciados
anteriormente produzidos, ou seja, “cada enunciado é um elo na corrente complexamente organizada
de vários enunciados” (BAKHTIN, 2003, p.272) .Nas situações comunicativas
diárias, em que são produzidos diferentes textos (enunciados), sempre são
recuperados conversas, fatos, notícias, e essa recuperação de enunciados
anteriores, inevitavelmente, entra na constituição dos novos textos
(enunciados) produzidos
Koch, Bentes e Cavalcante (2007)
ressaltam que a Linguística Textual incorporou o postulado dialógio bakhtiniano
e, a partir dessa nova visão, o conceito de texto foi atualizado, passando
a ser o lugar no qual os sujeitos são
constituídos e interagem socialmente por
meio de ações linguísticas, cognitivas e socias. Nessa concepção, segundo
afirma Maingueneau (1976), o intertexto passa a ser um dos elementos decisivos
das condições de produção dos enunciados, uma vez que o discurso é construído
através de um já dito. Corroborando a
importância do intertexto, as autoras supracitadas postulam a existência de uma
intertextualidade lato (ampla), constitutiva de todo e qualquer
discurso, e de uma intertextualidade stricto sensu (restrita), que
ocorre pela presença de um intertexto, anteriormente produzido, na constituição de um novo texto. Esta última
classificação, conforme já explicado, será norteadora deste artigo.
No que tange à intertextualidade stricto
sensu, as autoras elencam alguns tipos de intertextualidade bem como as
características próprias de cada uma, quais sejam: intertextualidade
temática, em que os textos partilham de um mesmo tema abordado; a intertextualidade
estilística, em que há o uso de determinado estilo ou variedade linguística
próprios de determinado autor, gênero ou segmento da sociedade; intertextualidade
explícita, quando o intertexto, é identificado como pertencente a outro
enunciador, com a menção da fonte; intertextualidade
implícita, quando não há menção
explícita da fonte do intertexto; autotextualiade, em que o autor se utiliza, em seu texto, de
trechos de outras obras suas; intertextualidade intergenérica, em que um gênero
exerce a fução de outro; e a intertextualidade tipológica, em que há a partilha
de sequências ou tipos textuais – narrativas, descritivas, expostivivas etc.
A fim de dar um cunho mais didático ao
post, é dada ênfase aos conceitos de intertextualidade explícita e de intertextualidade
implícita. Na intertextualidade explícita “ um ou outro texto ou fragmento é citado, é atribuído a outro enunciador; ou
seja, é reportado como tendo sido dito por outro ou por outros generalizados[..]” (KOCH,
BENTES, CAVALCANTE, 2012, p.28-29). Alguns exemplos representativos desse tipo
de intertextualidade são as citações,
referências e menções que são feitas,
por exemplo, em resumos, resenhas,
textos argumentativos ou, ainda, situações de interação face a face. Vejamos, abaixo,
o exemplo de intertextualidade explícita:
Nos
casos de intertextualidade implícita, o que se verifica é a omissão da
fonte do intertexto alheio. A não explicitude da fonte do intertexto exige que
o leitor ative sua memória discursiva, a fim de recuperá-lo. Então, para que a produção de sentido se
efetive de acordo com os propósitos do produtor do texto, o leitor necessitará
estabelecer diálogos com os demais textos que compõem sua bagagem
sociocultural: textos que já leu, filmes que assitiu, músicas que ouviu, fatos
sobre os quais tomou conhecimento, dentre outros eventos comunicativos. Koch;
Elias (2012) chamam atenção para o fato de esse tipo de intertextualidade
envolver manipulação do texto alheio, a
fim de se alcançar efeitos de sentido diferentes. Dado esse maior nível de
subversão, apresenta-se como um recurso bastante empregado
na publicidade e na propaganda, como destacam as autoras supracitadas.
Vejamos, agora, um exemplo de intertextualidade implícita.
No
escopo da literatura, Piègay-Gross (1996)
classifica as relações intertextuais em dois tipos: relações de copresença entre dois ou mais
textos e relações de derivação de um ou
mais textos a partir de um texto considerado fonte/matriz. No primeiro tipo de
intertextualidade, a autora enumera a citação, a referência, a alusão e o
plágio. Quanto ao segundo tipo, elenca a
paródia, o travestimento burlesco e o
pastiche. É importante ressaltar que,
mesmo sendo abordada, inicialmente, na literatura, essa proposta de
classificação passou a ser aplicada também
em outros gêneros textuais.
Conforme Piégay-Gross (1996), na
citação é evidenciada a fonte do intertexto, com menção ao autor. A teórica
pontua que as citações podem
desempenhar diferentes funções
discursivas, como atestar a verdade de um discurso ou função de ornamentação, no caso de uma obra
literária, por exemplo. A referência, mesmo apresentando certa
semelhança com a citação, não apresenta transcrição literal do texto fonte, mas
faz uma remissão a elementos presentes em outro texto, como personagens, por
exemplo. Na alusão, por seu turno, o texto- matriz é retomado por meio
de algumas pistas, de forma bastante sutil. Nesse caso, “não se convocam literalmente as palavras nem as
entidades de um texto, porque se cogita
que o enunciador possa compreender nas entrelinhas o que o enunciador deseja sugerir-lhe sem
expressar diretamente” (KOCH, BENTES e
CAVALCANTE, 2012, p. 127) Quanto ao plágio, a citação não é marcada, ou
seja, embora haja a apropriação literal do texto do outro, não é dado crédito
ao autor.
No segundo grupo, Piégay-Gross
define a paródia como a
transformação de um texto cujo conteúdo é modificado, mesmo se conservando o
estilo. Verifica-se, nesse tipo de intertextualidade, o proprósito de suscitar
o lúdico. Já o travestimento burlesco é entendido como a reescritura de um estilo a partir de uma
obra cujo conteúdo é conservado.
Diferente da paródia, retoma o tema, mas se afasta da forma do texto do qual é
derivado. Por último, o pastiche
é apontado como a imitação de um estilo na qual foi conservada a forma do texto imitado.
Exemplo de paródia:
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Os gêneros
do discurso. In: Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes. 2003,
p. 261-306.
BAKHTIN, Mikhail.
Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do métodosociológico
na ciência da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1986.
KOCH, Ingedore Villaça;
ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3 ed. São Paulo:
Contexto, 2012.
_______; BENTES, A. C.;
CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade: diálogos possíveis. São Paulo: Cortez,
2007.
_______; BENTES, A. C;
CAVALCANTE, M.V. Intertextualidade: diálogos possíveis.
São Paulo: Cortez, 2012.
MARCUSCHI, L. A.
Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e circulação. In: KARWOSKI, A. M.,
GAYDECZKA, B., BRITO, K. S. (Orgs.). Gêneros textuais: reflexões e ensino. São
Paulo: Parábola, 2011.
MORAES, Franciane;
MENDES, Gustavo; LUCARELLI, Talita. Memes na internet: A web2.0 como espaço
fecundo para propagação. XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação
– Recife 2011.
PIÈGAY-GROS, N.
Introduction à l’intertextualité. Paris: Dunod, 1996.
Nenhum comentário:
Postar um comentário